Abílio Diniz diz o essencial para ser bem sucedido administrando empresas
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Abílio Diniz não liga tanto assim se você fala dois ou três idiomas, frequentou a melhor faculdade e fez curso de especialização no exterior.
Tudo isso conta pontos, claro. Mas, sem colocar a mão na massa, não dá para sacar a alma do negócio, afirma.
“Jovens que estudaram muito, em geral, não querem ralar em loja. E a vida está nas lojas, não na corporação”, diz o bilionário que transformou a doceria Pão de Açúcar, criada em 1948 pelo pai, na maior empresa de varejo do país.
Costuma ser um choque para a garotada recém-diplomada ter de descascar abacaxis (às vezes literalmente) numa loja -ele sempre repara nas caras de espanto de novos trainees da companhia quando essa proposta é feita.
Diniz afirma que, nos supermercados de sua rede, aprendeu a cortar carne e ajudou a empacotar compras. Foi, enfim, um “faz-tudo”, sobretudo nos primeiros anos.
“Quando você é jovem, tem que fazer tudo. Não dá para ficar: ‘Só gosto de escritório'”.
Uma baita mudança de perspectiva para Nicole Gomes, 20, Gabriela Ferreira, 19, e Gustavo Yasunaka, 20. Na sede do Pão de Açúcar, em São Paulo, o trio bateu um papo com Diniz sobre a carreira do administrador.
O encontro faz parte da série “Choque de Realidade”, com reportagens em que o “Folhateen” promove um cara a cara entre estudantes e gurus de suas áreas.boa fortuna
Diniz é um afortunado em vários sentidos. Comecemos pelo literal: com patrimônio estimado em US$ 3,6 bilhões pela revista americana “Forbes”, ele está entre os dez homens mais ricos do país.
Seu fôlego não é só para negócios -aos 75 anos, pai de seis filhos, o amante de esportes é um “outdoor” ambulante da “geração saúde”.
De cara Diniz aconselha: ninguém nasce sabendo. Mas pode correr atrás e descobrir o que tem a oferecer de novo.
Ele aponta para uma das meninas: “Tem que falar: ‘Quero estabelecer meus diferenciais. Quais são? Ah, sou bonita, tenho olhos simpáticos… Não é suficiente. Vou saber o máximo que puder sobre o que quero fazer”.
Vale aproveitar o pique da juventude. “Nessa idade, pode ralar 20 horas por dia que não vai quebrar, não vai entortar. Agora, não vamos fazer disso um modo de vida”.
Atenção: não vale a pena se matar de trabalhar para mostrar serviço. Se virou sacrifício, esquece. Assim ninguém rende. “Não conta ponto o cara que vem: ‘Estou fazendo o máximo, não vejo meus filhos, minha mulher, mas não tem importância’.”
Esteja preparado para o caso de seu investimento se mostrar uma furada. “O Abílio sempre tem plano B”, diz, na terceira pessoa mesmo. “Sempre tem outros planos. Não deu certo aqui, nós vamos para ali. É muito importante ter flexibilidade.”
QUASE FALÊNCIA
Diniz também precisou se adaptar. Acha que o final dos anos 80 foi o período mais desafiador, por conta de brigas com irmãos, a quase falência do Pão de Açúcar e um sequestro que sofreu em 1989.
Atualmente, passa por nova adequação: o controle de sua empresa está passando para o grupo francês Casino.
Olhar para a frente é uma das últimas lições da conversa com Diniz. “Não persiga o antigo. Não pense em loja de armarinho, tricô. Me encanto cada vez mais com isso [aponta um iPhone]. O que vocês pensam que o Steve Jobs era? Não era diferentes de vocês: jovens talentosos.”
Fonte: Folha.com