O Poço | A esperança que nasce na escuridão
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Lançado em 2019, mas apenas chegando ao Brasil em 2020 pelo serviço de Streaming Netflix, O Poço arrancou elogios e se tornou um fenômeno e muito comentado nos últimos dias, trazendo para os espectadores a própria interpretação sobre o que presenciaram na tela.
Dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, o filme retrata uma construção no estilo torre que aloca duas pessoas por andar e é tratada como um experimento social pela administração (os idealizadores desse projeto).
O filme tem forte apelo à crítica do sistema capitalista e também do socialista, mas de forma bem superficial, pois falha em representar, por exemplo, o funcionamento do que poderia representar um sistema capitalista.
O próprio diretor já deu entrevista mostrando sua visão do filme e qual o significado real do final do filme. Mas aqui iremos tratar de alguns aspectos que observamos no decorrer do filme e suas analogias as narrativas bíblicas.
Não daremos spoilers nessa análise, mas indico que vejam esse filme. Valerá a pena!
O MESSIAS
O protagonista desse filme se chama Goreng e foi para o poço por livre vontade e sua reclusão seria de apenas 6 meses. Ele chega sem entender como é o funcionamento do poço, dando a entender que o projeto não é explicado de forma clara para a população, mas que todos sabem que existe, já que o Goreng foi por escolha própria e participou de uma entrevista de entrada.
Goreng acorda no nível 48 e conhece seu parceiro de andar, o Trimagasi. Eles iniciam uma relação de “amizade” e Trimagasi explica o funcionamento do poço. Goreng se recusa inicialmente a ideia do que aquilo representa, mas logo se rende ao funcionamento.
Todos os meses, as pessoas dentro do poço são trocadas de andares de forma aleatória. Um dia você está no melhor andar, no outro pode estar no pior. E a lógica segue que, quem está em cima come melhor do que está no andar inferior, e assim segue, já que a refeição é única e os últimos acabam comendo apenas os restos, e por muitas vezes, nada.
Em dado momento do filme, Goreng percebe que precisa fazer algo para acabar com aquela desigualdade, e assim começa sua jornada a redenção.
No filme, Goreng é chamado de messias, uma clara alusão ao fato de que ele queria salvar todos daquele poço. E é nesse momento que ele conhece Baharat.
A SALVAÇÃO POR SI SÓ
Ao chegar no sexto andar, Goreng conhece Baharat, que trouxe consigo uma corda e a usa para subir entre os andares para que possa ser livre. Ele está radiante, pois no sexto andar significa que está perto da saída, mas como Trimagasi já disse: os de cima não escutam porque estão em cima. Ele tenta negociar com os habitantes do andar de cima, mas acaba perdendo sua corda no poço.
Baharat é a representação do homem que acredita que a salvação está na força do próprio braço, ou seja, que a salvação está nele próprio e não em Cristo.
Essa representação mostra como nos distanciamos de Cristo e da salvação quando negamos que a nossa força vem dEle e que a salvação é através dEle.
Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores…Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. Romanos 5:8,10
Sem esperança para subir, Baharat se entrega ao andar, mas escuta o chamado de Goreng (messias). Para que salvem as pessoas do poço, eles precisariam descer até o último andar. Nessa trajetória, descendo pelo andares, descobrimos como o ser humano fica mais obscuro a cada nível, e assim como o pecado, quanto mais entregues a ele, mais distantes da superfície ficamos. Durante essa descida, o filme representa de forma simbólica através das pessoas nos andares, os pecados da humanidade, conhecidos como os sete pecados capitais.
Finalmente Goreng e Baharat chegam ao último nível, o andar 333.
30
Não sei se de forma proposital, mas o andar 333 representa o mais baixo que o ser humano pode chegar em seu pecado. Pensando na simbologia existente, e se cada andar possui duas pessoas, o nível 333 representaria o número 666 que é comumente atribuído como o número da besta, o mal encarnado que virá para trazer o caos no Apocalipse bíblico.
Nesse nível, nas condições mais obscuras de tratamento de um ser humano, eles encontram uma criança que se esconde debaixo do banco. Ela, mesmo estando no último nível daquele poço, estava com boa aparência, limpa e – comparada aos habitantes dos andares superiores ao dela – bem alimentada.
Nesse momento, a mensagem de liberdade que o filme passa é a própria criança que não deveria estar ali, e assim, Goreng decide levar ela até o topo do poço através da plataforma que toda noite sobe novamente para o andar da administração.
Apesar de levar o nome de messias, Goreng não pode levar a criança de volta. Ela é a mensagem de esperança (Mateus 18:3) daquele povo, mas Goreng não é o mensageiro. Apesar de ser chamado de “messias” seus pecados não o tornam digno para ser o verdadeiro Salvador. Sua representação mostra apenas como o ser humano passa a vida em busca de redenção, e que, mesmo chegando no fundo do poço, o ser humano que olhar para o alto poderá encontrar a esperança.
E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus. Mateus 18:3
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